sábado, 3 de outubro de 2009

Campeão do Mundo

E com o toque da campainha saíram os putos todos em correria desenfreada em direcção ao pátio, e o mais gordito que se deixou ultrapassar por todos já a gritar, Hoje não vou à baliza, e o dono da bola, que é sempre quem manda no recreio, Então não jogas, e o gordito amuado mas resignado lá foi para a baliza. As meninas todas crescidas nem ligam aos saltos que a bola dá, e aos gritos, Passa, passa, que vêm do campo de jogos, e ficam todas juntinhas sentadas a falar daquilo e disto. A contínua sempre num virote a tomar conta dos mais pequenos que não ficam quietos nem por nada e volta e meia se pegam à bulha uns com os outros, O carro é meu, não brincas com ele, e o outro vira costas e começa num berreiro. Nenhum liga ao homem que ainda é rapaz e está do lado de fora da escola com a testa já marcada do ferro das grades onde se encosta. O corte elegante do fato e a gravata azul, cascata de água no peito branco engomado, trabalha num escritório fechado o dia todo sufocado em papelada, da porta do gabinete só se vê o topo do seu cabelo escuro bem penteado, ou então é mais um dos que andam por entrevistas à procura de um escritório fechado que o sufoque em papel até à ponta da cabeça. Lembrou-se agora que é adulto, penso para mim, e lembro-me que já sou adulto e não posso pedir ao dono da bola se também posso jogar, Eu vou à baliza no lugar do gordito, não me importo, e depois de ganhar o jogo, hoje joguei pelo Brasil contra Portugal, corro para a sala de aula todo transpirado e faço os deveres com aquela vontade de aprender que só quem defendeu um penalty ao Figo no recreio tem. Lembrei-me agora, já sou adulto.

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