O centro de saúde não é lugar para jovens, ainda para mais se estes estiverem sãos. Uma sala de espera apinhada de idosos, a esmagadora maioria deles enfermos, não poderá nunca ser o lugar apropriado para alguém estar. Aliás, a probabilidade de alguém ir ao médico de família saudável e sair de lá às portas da morte é exponencialmente maior do que o contrário. Só de olhar para dentro da sala de espera para verificar que estava cheia e que preferiria esperar nas escadas, fora da sala, já apanhei conjuntivite e estou a chocar umas cataratas. E quase que aposto que quando tiver de atravessar a terrifica sala para entrar no consultório do Doutor, e mesmo sustendo a respiração, vou apanhar bicos de papagaio, uma pedra no rim e com toda a certeza ficar com um grave caso de joanetes.
Estou agora dentro da sala, vagaram uns poucos lugares. Não vi metade das pessoas que ocupavam esses lugares sair. Deduzo que tenham falecido e logo de seguida o seu corpo devorado pelos restantes. A espécie idoso enfermo alimenta-se sobretudo de soro e medicamentos, no entanto há casos documentados de canibalismo. Todas as quatro janelas da sala estão fechadas, o que faz com que este espaço com aproximadamente 30 pessoas possua um cheiro que eu só consigo associar ao de uma gruta habitada por morcegos, e cujo solo se encontre coberto pelos dejectos dos mesmos. Os rituais são os habituais. Alguns espécimes comparam doenças, enquanto outros mostram várias fotos dos seus descendentes, gabando as suas façanhas, ainda que estas estejam ao nível das de um chimpanzé com trissomia 21. O meu único objectivo é escapar com vida, procuro possíveis pontos de fuga. De repente, o meu nome soa nos altifalantes fanhosos e entro na sala do Doutor. Missão cumprida.
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