Eu estudo jornalismo. Eu pretendo ser jornalista. Eu estou condenado ao fracasso como jornalista. Não se trata de ter ou não jeito para a coisa, isso agora não vem para o caso. A verdade é que, e vou dizê-lo com cuidado para não ferir os sentimentos dos mais sensíveis, eu não tenho um Moleskine. E não desejo ter um Moleskine. Não tenho nada contra o dito, foi usado por grandes como Hemingway, van Gogh e Picasso, e até é girinho, dentro do possível que é a um caderno ser girinho.
A verdadeira questão está aqui: não passa de um caderno, ou bloco de notas, ou sinónimos à escolha. E, sendo um caderno, custa o mesmo que oito gelados Magnum Classic! Ora eu, ainda para mais estando um calorzinho dos diabos, não me vou privar de sete Magnum Classic (o outro troquei por um caderno da Auchan), apenas para adquirir um bloquinho com estatuto. É que depois é um ciclo vicioso! Não vou escrever no Moleskine com uma bic, logo tinha de comprar uma Parker, que também é muito mais cara que uma bic. E depois tinha que transportar o Moleskine numa mala como deve ser, de pele italiana ou coisa que o valha.
Mas a realidade é esta, sem um Moleskine nunca irei a lado nenhum no jornalismo em Portugal.