hoje quero escrever. preciso de escrever, a minha prosa é o meu porto. as palavras saem dos meus dedos para as teclas negras, e surgem em frente de mim como as areias da praia a um pescador, cansado das ondas, do sal, da água que quase chega aos ossos.bato na negritude diante dos dedos, bato no vazio da solidão. não tenho nada, não faço nada. nunca plantei uma árvore, nem tão pouco escrevi um livro, não doo sangue nem medula. dei um pacote de arroz. porque é que não dei mais? em duas décadas, um (optimista) quarto da minha vida passou, e eu sem ter nada, sem fazer nada. tenho o comboio que os outros têm, apertado em monotonias diárias e caras sem rosto, tenho as palestras sobre o que outros têm, o que outros fazem. tenho muito que fazer, quero muito não ter de o fazer.
não tenho o que quero ter. não sei o que quero ter.
sei que não o tenho.
não tenho o que quero ter. não sei o que quero ter.
sei que não o tenho.